As 14 maiores Lambanças econômicas da História do Brasil 💩

A história do Brasil é recheada de lambanças econômicas causadas por governantes que visavam o bem do país, dos seus amigos e até mesmo de outro país. Infelizmente não é possível contar todas, mas tratei de selecionar as que causaram (e ainda causam) os maiores problemas. Eis as 14 maiores lambanças econômicas da história do Brasil.

Lambanças Econômicas Brasileiras
Lambanças Econômicas Brasileiras

1. Intenso controle por parte da metrópole

Como todos estão cansados de saber, o Brasil foi uma colônia de exploração e sua metrópole era Portugal. Em busca de ouro, especiarias e visando o desenvolvimento de atividades econômicas que fossem lucrativas, a coroa portuguesa montou um grande aparato que asfixiou a liberdade econômica na colônia.

Taxação excessiva, grande burocracia, leis que impediam a existência de manufaturas e até mesmo de instituições de ensino superior, fizeram com que fosse muito mais interessante ser amigo do rei do que empreendedor. Evidente, você poderia empreender se fosse amigo do rei e sua margem de lucro seria incrivelmente alta, uma vez que operaria como monopolista, dependendo do setor.

Durante os anos iniciais da colonização, passando pela produção do açúcar, chegando à exploração de ouro, é possível notar que Portugal não queria perder de forma alguma o controle sobre sua mais lucrativa colônia.

Se compararmos a colonização portuguesa na América do Sul com a inglesa na América do Norte, lá os colonos ingleses foram “esquecidos” por um bom tempo pela Inglaterra, que estava ocupada resolvendo questões políticas internas e guerreando com outras nações europeias. Por conta disso, as 13 Colônias puderam ter um forte desenvolvimento econômico, regido pelos princípios do livre mercado.

Portanto, podemos considerar o grande controle de Portugal sobre o Brasil a primeira grande lambança econômica da nossa história. Vale ressaltar que os portugueses, inteligentemente, foram incapazes de administrar as nossas riquezas, queimando-as em atividades improdutivas ou em pagamento de dívidas (especialmente com a Inglaterra).

2. Ter sido o último país a ter abolido a escravidão

Durante séculos o trabalho escravo foi utilizado no Brasil e inúmeros negócios giravam em torno desse imenso mercado de gente. A escravidão era considerada o grande motor da nossa economia. Entretanto, como os escravos não recebiam salários, suas potencialidades econômicas acabavam perdidas.

No gráfico a seguir é possível ver a quantidade estimada de escravos que foram trazidos ao Brasil durante o período colonial. Os números são altíssimos. Desconsiderando o fato de que esses homens e mulheres foram trazidos à força para trabalhar aqui, imagine se todos recebessem salários? Eles acabariam se tornando um imenso mercado consumidor, o que levaria o desenvolvimento de mais negócios, turbinando a economia.

Os estados brasileiro e português, além de terem incentivado o tráfico de escravos, asfixiaram a potencialidade econômica de várias pessoas. Sem sombra de dúvidas, a escravidão foi uma pedra no caminho do nosso desenvolvimento econômico.

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3. O Encilhamento

Quando a monarquia foi derrubada, obrigando Pedro II e seus familiares a se exilarem na Europa, o Governo Provisório assumiu o poder tendo como presidente o General Deodoro da Fonseca. Para controlar o Ministério da Fazenda, o governo escolheu um dos intelectuais mais respeitados da época: Ruy Barbosa. Antes de analisarmos a política econômica desse período, precisamos explicar o conceito de demanda por moeda.

Basicamente, precisamos de moeda para comprar bens e serviços, bem como para guardar dinheiro por um curto período de tempo (quando deixamos algumas notas na carteira) e realizar até mesmo operações de especulação. Quando a renda das famílias sobe é comum que a demanda por moeda aumente, da mesma forma quando a renda cai, ocorre o mesmo com a demanda por moeda. Dessa forma, o Banco Central aumenta e diminui a oferta de moeda na economia. Com esse conceito esclarecido, podemos voltar às lambanças.

Quando a escravidão foi abolida em 1888, um grande número de trabalhadores foi inserido no mercado de trabalho. Portanto, a quantidade de moeda em circulação não atendia a demanda da população brasileira. Com isso, a escassez do meio circulante (falta de papel moeda) se tornou um problema para o último ministro da fazenda do Império: o Visconde do Ouro Preto.

O ministério autorizou três bancos (Banco Nacional do Brasil, Banco de São Paulo e Banco do Comércio) a emitir três vezes a quantidade de moeda que estes possuíam estocadas em ouro em seus cofres. Com a determinação, esperava-se que houvesse um aumento de 42% na quantidade de moeda na economia, o que acabaria definitivamente com a questão da escassez.

Além disso, ainda na época do Império, uma política para “indenizar” os cafeicultores pela perda de sua mão de obra foi iniciada. A política funcionaria assim: o Tesouro emprestaria uma determinada quantia aos bancos e eles seriam obrigados a emprestar o dobro aos cafeicultores, cobrando uma taxa de juros de 6%. Com isso, instituições financeiras que desejavam receber recursos do governo começaram a surgir. No fim, tais recursos jamais chegaram a poucos produtores de café do país, uma vez que foram direcionados a empreendimentos industriais e comerciais. As bombas estavam instaladas, faltava apenas acender o pavio.

Quando Ruy Barbosa, um crítico da política de Ouro Preto, tomou à frente do Ministério da Fazenda, a moeda nacional começou a perder valor por conta do golpe de estado, o que ocasionou uma forte evasão de divisas, principalmente por parte dos bancos ingleses. Barbosa acreditava que a perda de valor dos mil réis tornaria o esquema de emissão de moeda lastreada ao ouro inviável. Além disso, Barbosa queria intensificar o processo de industrialização e encontrar uma forma de arrecadar fundos para o governo, pois os banqueiros ingleses haviam se recusado a emprestar dinheiro aos golpistas. Para solucionar essa questão, o ministro aprovou a emissão de moeda lastreada a títulos da dívida pública.

Com o tempo, cada vez mais bancos foram autorizados a emitir moeda lastreada em títulos públicos, fazendo com que os seus preços disparassem no mercado. Com o aumento da quantidade de moeda beirando os 40%, em janeiro de 1890, um grande boom começou a tomar conta da economia brasileira. A especulação na Bolsa de Valores do Rio de Janeiro crescia, ao passou que empresas (que nem mesmo existiam) eram criadas, simplesmente para ter as ações negociadas no mercado. Veja o quanto cresceu a quantidade de moeda, no gráfico a seguir.

O resultado dessa grande lambança econômica foi o aumento expressivo da inflação, do desemprego e da dívida pública. Tais fatos levaram Ruy Barbosa a deixar o ministério. Posteriormente, os excessos do Encilhamento seriam sanados durante o governo de Campos Sales, que adotou medidas ortodoxas, reduzindo os gastos do governo e da oferta de moeda na economia.

4. A Lei da Usura

Quando a Crise de 1929 abalou o mundo, obter crédito ficou muito mais caro e difícil. Como Getúlio Vargas necessitava tocar o seu projeto desenvolvimentista, em 1933, promulgou a Lei da Usura. A lei fixaria o limite da taxa de juros em 12% ao ano. Vargas deu um tiro no próprio pé, no de vários tomadores de empréstimos e no dos poupadores – a lei não passava de mais um dos velhos controles de preços.

Imagine, caro leitor, que você fosse dono de um banco de nome Liberbank, que concedia crédito a uma taxa de 15% ao ano. Uma vez que, segundo a sua análise, apenas taxas acima desse valor compensariam o risco de emprestar o seu dinheiro, no seu banco, havia uma série de pessoas que realizavam depósitos em poupança por conta exatamente dessa taxa de juros; pessoas muito satisfeitas com seus rendimentos mensais.

Após a promulgação da lei, você analisa que não é mais vantajoso emprestar dinheiro, uma vez que o risco de calote só pode ser compensado a uma taxa de 15% e não de 12%. Dessa forma, você para de emprestar dinheiro às pessoas.

Pedro, que queria abrir uma padaria na esquina da sua rua, vai até seu banco e fica decepcionado com a notícia de que você não está mais emprestando dinheiro. Assim como ele, inúmeros empreendedores em potencial que necessitavam de crédito para iniciar ou dar continuidade aos seus negócios são impedidos de abrir seus empreendimentos. Já os poupadores que tinham poupança no seu banco começam a retirar seu dinheiro para aplicar em investimentos mais rentáveis.

Portanto, qualquer tipo de lei que controle a taxa de juros é profundamente danosa ao sistema produtivo e as pessoas que querem poupar o seu dinheiro. No final, Vargas, que queria ampliar o acesso ao crédito, acabou por restringi-lo ainda mais.

5. A proibição dos jogos de azar

O jogo sempre foi bastante popular no Brasil. A partir dos anos 1930, contudo, o crescente surgimento de clubes, hotéis e cassinos fez com que várias cidades se tornassem destino de turistas e de celebridades importantes, políticos, empresários e gente da mais fina classe. Com o aumento de turistas estrangeiros nos hotéis do Rio de Janeiro e de outras cidades brasileiras, os setores que se sustentavam com a ajuda dos jogos de azar passaram a lucrar muito e a empregar muita gente.

A atmosfera dos cassinos brasileiros era composta por shows de mulheres sensuais, bebida e fumaça de charutos. Alguns até podem achar esse ambiente profundamente degradante, mas[ quando a proibição do jogo começou durante o governo do general Dutra, havia cerca de 70 cassinos no Brasil e o setor empregava certa de 60.000 trabalhadores, além de desenvolver outros setores da economia.

Com a proibição, milhões em investimento foram perdidos, sem falar na quantidade de pessoas que ficaram desempregadas por conta dessa defesa da moral e dos bons costumes. Caso o setor fosse deixado livre da mão do estado, o mesmo teria se desenvolvido e gerado muito mais empregos e teria enchido os cofres públicos de dinheiro, por conta dos impostos. Não foi o caso.

6. Criação do BNDE(S)

Criado em 1952, durante o segundo governo de Getúlio Vargas, tendo como um de seus idealizadores o saudoso Roberto Campos (sim, ninguém é infalível!), o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico tinha como objetivo impulsionar o desenvolvimento do Brasil, através da concessão de crédito subsidiado pelo governo.

O banco, contudo, foi utilizado por inúmeros políticos para impulsionar seus projetos desenvolvimentistas, via aumento dos gastos públicos. Tais políticas geraram um grande boom econômico responsável por gerar uma alta na inflação, desemprego e baixo crescimento. Além disso, o banco passou a funcionar como um “bolsa empresário”, onde os amigos do rei obtinham crédito barato e farto.

Atualmente, esse monstro, que é maior que o Banco Mundial, é responsável por um quarto de todo o crédito fornecido no Brasil e destina 70% deste às grandes empresas – uma das mais famosas delas é a Boibrás, também conhecida como JBS (sim, a que faz o comercial da carne Friboi).

Muitos alegam que a existência do BNDES é de suma importância para o desenvolvimento do Brasil, uma vez que as taxas de juros praticadas pelos bancos são muito altas. Mas é claro! Os banqueiros não vão arriscar seu capital em negócios-bolha como é o caso do Império X, muito menos em empreendimentos que apresentam perdas milionárias, como é o caso da JBS.

Se os formuladores de políticas públicas desejam que as taxas cobradas sejam menores, o primeiro passo é fechar a torneira do BNDES e fazer um programa de desregulamentação bancária, para que bancos estrangeiros passem a competir com os (poucos) instalados aqui. É claro que isso nunca irá ocorrer, porque os burocratas benevolentes ainda creem na falácia de que desregulamentações bancárias geram desequilíbrios, como as crises que ocorreram em 2008 e 1929. Inocentes…

7. Aumento de 100% do salário mínimo

Ainda durante o segundo governo Vargas, outra lambança econômica foi feita: aumento de 100% do salário mínimo! Qualquer economista estudou nos primeiros períodos de faculdade que a elevação do salário mínimo gera desemprego. Nesse artigo explico melhor o motivo pelo qual o salário mínimo é uma das maiores políticas de desemprego. Basicamente, quando o governo eleva o salário mínimo, empregadores que não podem pagar esse salário acabam demitindo seus funcionários.

Como é possível ver no gráfico a seguir, entre o primeiro governo Vargas (quando o salário mínimo foi instituído) e o governo do general Gaspar Dutra, houve uma queda no salário mínimo, por conta de uma política de arrocho salarial (provavelmente porque os empresários estavam com dificuldade de arcar com o salário imposto por Vargas). Por conta do arrocho, o salário mínimo acabou perdendo 30% do seu valor, fazendo com que as centrais sindicais exigissem um aumento.

João Goulart, que então ocupava o Ministério do Trabalho, propôs um aumento de 100% do mínimo. Isso mesmo, cem por cento. Contudo, a ideia de Goulart foi travada por empresários e alguns militares. A insatisfação deles gerou tanta repercussão que Vargas acabou afastando Goulart e o então ministro da Guerra, Ciro do Espírito Santo, de seus cargos. Ainda assim, no dia primeiro de maio de 1954, Vargas elevou em 100% o salário mínimo, nos moldes do plano de Goulart.

8. “50 anos em 5”

Para os mais antigos, Juscelino Kubitschek foi um grande herói. Quem nunca ouviu de algum velhinho a frase: “Mas no tempo do Juscelino não era assim”, ou “não havia toda essa corrupção quando o Juscelino era presidente”. JK era um político bastante hábil e criou um projeto que trataria ao Brasil o desenvolvimento de 50 anos em apenas 5!

Seguindo um modelo bastante desenvolvimentista e keynesiano, JK aumentou os gastos do governo, emitindo moeda, usando o BNDE e se endividando com o FMI. Ao mesmo tempo, ele fez uma abertura para empresas do setor automobilístico operar aqui, que trataram de absorver uma grande quantidade de trabalhadores brasileiros e ainda foram protegidas da concorrência de outras montadoras que não se instalaram em território nacional.

Com os gastos do governo a todo vapor e uma leve abertura econômica, o PIB começou a crescer, assim como os salários. Contudo, a inflação e a dívida externa seguiram o mesmo ritmo.

Com o crescente endividamento, o FMI parou de conceder empréstimos ao Brasil, o que fez com que JK cortasse relações com o órgão. Além disso, os ganhos obtidos inicialmente com a emissão de moeda começaram a causar dor de cabeça aos brasileiros, principalmente aos mais pobres, que viram seu poder de compra ser corroído pela inflação. O que os brasileiros não sabiam é que o grande estrago causado pelo plano econômico de JK estouraria mesmo durante os governos de seus sucessores Jânio Quadros e João Goulart.

Vale ressaltar que os projetos de desenvolvimento acabaram queimando a riqueza dos pagadores de impostos de outras regiões do Brasil em uma cidade que hoje é rodeada de pobreza e órgãos profundamente corruptos, conhecidos como Superintendências do Desenvolvimento. No final, JK acabou deixando uma herança maldita para o país que só seria aumentada nos governos posteriores.

9. Pra Frente Brasil!

Com os excessos econômicos feitos durante os governos de João Goulart e JK, os militares conseguiram arrumar as finanças públicas, assim como a inflação, através do Plano de Ação Econômica do Governo, mais conhecido como PAEG. O plano foi idealizado pelo ministro do planejamento, Roberto Campos, e pelo ministro da fazenda, Otávio de Bulhões, e abriu as portas para mais um plano econômico intervencionista.

Antônio Delfim Netto, czar da economia brasileira, foi chamado pelo então presidente Médici para ocupar o cargo de Ministro da Fazenda. O plano de Delfim Netto era elevar o crescimento econômico do país através do aumento da participação das estatais. Dessa forma, inúmeras estatais foram criadas e diversas obras (muitas consideradas as maiores do século XX) foram feitas.

Em plena atividade, as estatais acabaram desenvolvendo diversos setores da economia, como o da construção civil, siderurgia e petroquímica. Com isso, inúmeros empregos foram criados e o PIB apresentava altas taxas de crescimento, tanto que o período compreendido entre 1968 a 1973 passou a ser conhecido como Milagre Brasileiro.

Entretanto, como o milagre era baseado no arrocho salarial, emissão de moeda, grande endividamento externo e interno, a inflação corroía o poder de compra da população, fazendo com que, enquanto o PIB crescia, os brasileiros empobrecessem.

A festa poderia ter acabado em 1973, quando estourou a Crise do Petróleo. Todavia, o presidente Ernesto Geisel decidiu forçar ainda mais o projeto de Delfim Netto, através do aumento da intervenção do estado na economia, via estatais. Além disso, o Brasil seguiu com a política de importação de combustíveis que eram pagos com empréstimos externos (também chamados de petrodólares). Os militares não sabiam que estavam armando uma bomba relógio.

Quando o presidente do FED, Paul Volcker, elevou a taxa de juros dos EUA para acabar com a inflação, em 1979, os juros das dívidas dos países latinos, que tinha como referência a taxa de juros internacional, aumentaram de forma monstruosa, assim como as suas dívidas. O aumento da taxa de juros dos EUA quebrou inúmeras nações, inclusive o Brasil, que decretou moratória em 1982.

Curioso é que, até hoje, Delfim Netto afirma que o Brasil deveria ter se endividado, pois a outra opção seria realizar um racionamento de combustíveis. É claro que o grande czar da economia não pensou em quebrar o monopólio da Petrobras e, posteriormente, abrir o mercado para que outras empresas produtoras de combustíveis pudessem produzi-los em solo nacional. Dessa forma, em alguns anos, a promessa da autossuficiência se tornaria realidade e o preço da gasolina atualmente não seria um dos mais altos do mundo.

É possível resumir as extravagâncias nacionalistas desenvolvimentistas dos militares nesse gráfico: inflação, perda do poder de compra e baixo crescimento econômico durante os governos civis posteriores.

10. Plano Cruzado

Ao entrar na faculdade de economia, aprendemos que controles de preços não dão certo. Quando o governo fixa um preço abaixo do valor de mercado para um determinado produto, os produtores param de produzi-lo e mais compradores tendem a querer o produto (por conta do preço reduzido). Ou seja, o governo cria um descompasso entre demanda e oferta, causando escassez.

A partir dos anos 1980, o Brasil foi um grande laboratório de planos econômicos heterodoxos que tinham como objetivo acabar com a inflação galopante. O Plano Cruzado foi o primeiro deles, lançado em 1986, durante o governo de José Sarney. As medidas foram basicamente: congelamento de preços, salários e mudança de moeda (cruzeiro para cruzado). Se o problema não era o aumento dos preços, por que não congelá-los? Simples, não? Não… Arrisco a dizer que os pais do cruzado faltaram às aulas de microeconomia.

O plano funcionou bem no início, o que fez com que a população apoiasse em massa a ideia dos heterodoxos. Com isso, os famosos Fiscais do Sarney começaram a surgir para conferir se os preços das prateleiras estavam de acordo com os da tabela do governo. Um dos mais conhecidos fiscais foi Omar Marczynski, que fechou um mercado em nome do povo, uma vez que os preços praticados no estabelecimento não estavam de acordo com a tabela (o que, acredite ou não, era contra a lei).

Com o tempo, as leis econômicas passaram a atuar e produtos começaram a sumir das prateleiras dos supermercados. Como os produtores não estavam obtendo lucros, passaram a não ter mais os incentivo para produzir. Alimentos básicos como carne, simplesmente sumiram dos mercados, fazendo com que os consumidores tivessem que recorrer a mercados paralelos, cujos preços eram muito maiores.

O governo passou a ter que importar carne para enfrentar a escassez. O problema é que a distribuição apresentava inúmeras falhas, por conta de desvios que faziam com que ela não chegasse até os consumidores. Vale ressaltar que havia uma história de que a carne importada pelo governo, oriunda da Ucrânia, havia sido contaminada por radiatividade. Foram tempos difíceis aqueles.

Após as eleições para governador, realizadas em 1987 (em que o partido do governo teve ampla vitória), os preços foram descongelados e os produtos voltaram às prateleiras (muito mais caros do que anteriormente).

11. Plano Collor

O Brasil ainda estava sofrendo com a inflação galopante quando o “caçador de marajás”, Fernando Collor de Melo, foi eleito presidente. Collor prometeu lançar um plano que acabaria com a inflação e modernizaria a economia brasileira. No primeiro dia de seu mandato, foi lançado o Plano Brasil Novo, que ficou conhecido como o Plano Collor.

Basicamente, o plano tinha como objetivo enxugar o setor público, através de um programa de privatizações, e acabar com a inflação confiscando as poupanças dos correntistas… Isso mesmo, caro leitor! Inflação não é aumento de moeda da economia? Então podemos acabar com ela simplesmente reduzindo a quantidade de meio circulante, mesmo que seja à força. A então Ministra da Fazenda, Zélia Cardoso, entrou para a história por ter confiscado a poupança dos brasileiros e acabou se tornando alvo de inúmeras piadas.

O confisco acabou de fato controlando a inflação, mas comprometeu profundamente a atividade econômica, uma vez que as pessoas não tinham dinheiro para comprar os produtos, principalmente os com preços maiores, como casas e carros. O resultado do plano foi uma enorme queda do PIB e desemprego. Se não havia demanda, por que os produtores produziriam seus produtos, ou até mesmo contratariam pessoas?

Os planos heterodoxos não só causaram uma grande confusão na economia brasileira como deixaram inúmeras feridas no país. Até hoje, inúmeros correntistas que perderam seu dinheiro com as correções monetárias aguardam pelo julgamento do STF para serem indenizados. Além disso, tais planos evidenciam a grande falta de respeito aos princípios mais básicos da economia e da propriedade privada.

12. Criação das agências reguladoras

É comum ouvir dos nossos companheiros que o PSDB é um partido a favor do livre mercado – ou “neoliberal” –  mas provavelmente esse seja um dos melhores exemplos que refutam tal afirmação. Por mais que algumas empresas tenham sido privatizadas durante o governo de Fernando Henrique Cardoso (vale lembrar que Itamar Franco e Fernando Collor privatizaram mais estatais que seu sucessor tucano), foi durante a sua gestão que o estado adotou um modelo de privatização onde seria capaz de obter controle sobre as empresas privatizadas.

Diferente de Collor e Itamar, que venderam de fato as estatais para a iniciativa privada, FHC ainda deixou alguns vários dedos do estado segurando as suas empresas “privatizadas”. A Vale, que foi vendida a “preço de banana”, foi vendida com recursos do BNDES e fundos de pensão de estatais passaram a controlar cerca de 50% da empresa.

No caso dos serviços de utilidade pública, estes não foram privatizados, mas sim concedidos à iniciativa privada (privatizar é o mesmo que vender um carro, fazer concessão é a mesma coisa que alugar o veículo por um período previamente estabelecido, mas o controle ainda é do dono), sem falar que agências como ANATEL, ANEEL, ANTT, ANP e diversos outros tentáculos do estado foram criados para “proteger o consumidor”. Não existe falácia maior que essa.

Por mais que os serviços de telefonia, distribuição de energia e etc, tenham melhorado muito desde a época da privatização, ainda deixam muito a desejar. Já parou pra pensar o motivo pelo qual há tão poucas empresas de telefonia no país? Conte comigo: Tim, Oi, Vivo, Claro, Nextel… Se esqueci de alguma, o número de empresas que oferecem o serviço deve ser menor que 10, certo? Onde estão as outras empresas estrangeiras (Virgin, Vodafone, T-Mobile…) e pequenas empresas de telefonia?

As empresas que já estão instaladas aqui fazem lobby, subornam os diretores das agências e até mesmo pedem para que leis “em prol da qualidade do serviço” sejam criadas. Tudo isso dificulta a entrada de outras operadoras e principalmente das menores, que não podem arcar com os altos custos oriundos das exigências das agências. Como a concorrência é pequena, a qualidade do serviço é baixa e os preços são altos, tanto que o setor de telefonia é um dos principais alvos de reclamação dos brasileiros.

No final, as agências reguladoras, antes criadas para proteger os consumidores das grandes empresas, acabam servindo a estas últimas. Portanto, caro leitor, quando escutar alguém pedindo mais regulamentações (o que para muitos sempre pareceu correto), não dê atenção e lembre de que você gosta de preço baixo e qualidade. Só a concorrência entre empresas, sem a ajuda do governo, pode lhe proporcionar isso.

13. Turbinando o PIB através do consumo

Em 2009, o PIB brasileiro encolheu 0,3%, por conta da crise internacional que, segundo o ex-presidente Lula, seria uma marolinha. De fato, o tombo do Brasil foi leve se compararmos aos países desenvolvidos (principais afetados pela crise), mas o governo precisava encontrar alguma maneira de fazer o PIB crescer. A estratégia utilizada foi bastante simples: consumir.

Através da redução da taxa de juros de 13,75% para inéditos 8,75%, Mantega e seus companheiros conseguiriam baratear o crédito. Os bancos públicos passaram a ter um papel importante nessa estratégia, uma vez que a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil passaram a oferecer crédito barato, farto e ótimas condições de pagamento para os correntistas que desejassem adquirir uma casa ou um automóvel. Além disso, o governo reduziu o IPI (imposto sobre produtos industrializados) de eletrodomésticos da linha branca e dos automóveis.

Com condições ótimas para o consumo, os brasileiros foram às compras. As empresas, vendo a demanda aquecida, passaram a contratar mais pessoas, os salários aumentaram e o PIB de 2010 chegou ao nível chinês de 7,5% (!). Viramos notícia no mundo e até a revista “The Economist” publicou uma matéria cujo título era: “O Brasil decola”.

Os colegas que já conhecem a Teoria Austríaca dos Ciclos Econômicos (TACE) sabem que essa receita é completamente perigosa para a economia de qualquer país, tanto que causou crises enormes, como a de 1929 e 2008.

Os efeitos do grande porre de crédito começaram a aparecer em 2010. Naquele ano, o país havia crescido apenas 2,7%, a inadimplência começou a subir, assim como a inflação. Por mais que o nível de emprego estivesse bom (o que é duvidoso, por conta do critério utilizado pelo IBGE), durante o governo Dilma, a atividade econômica ficou baixa e a inflação passou a corroer os ganhos da “nova classe C”. Com esse novo cenário econômico, a “The Economist” publicou outra matéria sobre o Brasil. Só que, dessa vez, um tanto mais pessimista com o título: “o Brasil estragou tudo?”.

14. As intervenções de Dilma

Quando Dilma Rousseff assumiu a presidência, ninguém a conhecia muito bem. De postura firme, Lula a chamava de “mãe do PAC”, enquanto pessoas próximas afirmavam que ela possuía um perfil de gerente. Com o passar dos anos, Dilma foi se mostrando muito semelhante ao general Ernesto Geisel, uma vez que passou a intervir profundamente na economia.

Em 2012, as tarifas de importação foram elevadas, assim como o IPI para os carros estrangeiros (a pedido das montadoras nacionais, que não queriam concorrer com os automóveis chineses e sul-coreanos), Dilma proibiu as montadoras de demitirem funcionários e estipulou quotas de importação de veículos do México. Com isso, a própria ANFAVEA (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) calculou uma queda de 1,5% da produção. Mas ela não parou por aí.

Inúmeras medidas protecionistas forma adotadas para outros setores, como o calçadista, de brinquedos e têxtil, que alegavam estar sofrendo concorrência dos produtos chineses (muito mais baratos que os produzidos aqui).

No campo macroeconômico, visando elevar o consumo das famílias como havia feito Lula, durante a sua gestão os juros foram reduzidos para 7,25%. Além disso, Dilma iniciou uma guerra contra os juros altos cobrados pelos bancos privados e colocou a Caixa e o Banco do Brasil na linha de frente, elevando ainda mais o crédito barato para os correntistas. A estratégia não deu certo, a maior parte dos brasileiros estava com parte de sua renda comprometida com o pagamento de dívidas contraídas na festa do consumo anterior, de 2010.

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Em 2013, em cadeia nacional de televisão, Dilma anunciou que havia reduzido a conta de luz. Muitos comemoraram a medida populista da presidenta, feita na marra. Com isso, o setor elétrico entrou em crise, com planos de investimento sendo adiados e perspectivas de crescimento reduzidas. As ações das geradoras e distribuidoras de energia, consideradas seguras, pois pagavam bons dividendos, levaram um enorme tombo na bolsa de valores, especialmente as das estatais.

Como os preços foram reduzidos de forma forçada, as empresas de energia foram socorridas pelo governo, que passou a desembolsar bilhões para que os custos não fossem repassados aos consumidores. Atualmente, as distribuidoras de energia sobrevivem com aportes do governo e os riscos de apagões e racionamento não são descartados. O objetivo da presidenta, reduzir a conta de luz, não foi alcançando. Analistas já esperam um aumento nos próximos anos.

No final, o plano de Dilma era criar mais empregos e gerar crescimento para o país. Contudo, com tantas intervenções, a inflação saiu do controle, o PIB não cresce e o índice de desemprego começa a incomodar o Planalto.

Conclusão

Muitos podem ter chegado até a aqui e disseram: “é mole apontar erros históricos quando os mesmos já foram resolvidos”. Sim, de fato. Contudo, caro leitor contestador, todas essas lambanças poderiam ter sido evitadas, ou ao menos minimizadas, se o estado não tivesse interferido na economia.

Até hoje os brasileiros sofrem com muitas dessas intervenções e há pessoas que ainda pedem que o estado continue regulando excessivamente o mercado. Quantos Encilhamentos, Planos Cruzados e destruição de setores que geram empregos terão que ser feitos para que o povo acorde e veja que a economia se regula por si só?

Atualmente vivemos um período de grandes lambanças. Alguns podem dizer que os ganhos sociais dos últimos anos ocorreram graças a políticas assistencialistas. Entretanto, conhecendo um pouco da história econômica do Brasil, é possível notar que durante duas décadas não temos tantos problemas com a inflação. Isso certamente explica esse período de estabilidade. Mesmo o real tendo perdido boa parte do seu valor, o poder de compra das pessoas não foi destruído, como nos governos anteriores. Além disso, com a inflação controlada, as pessoas passam a ter mais segurança ao investir e empreender. Tal fato também explica a “queda” nas taxas de desemprego.

Fecho com uma máxima do velho Barão de Mauá que, se fosse seguida pelos políticos brasileiros, certamente teríamos dificuldades para produzir essa matéria: ”O melhor programa econômico de governo é não atrapalhar aqueles que produzem, investem, poupam, empregam, trabalham e consomem”.

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