20 Anos do Plano Real: O que você precisa Saber
Depois do Plano Cruzado (I e II), Bresser, Verão, Collor (I e II) e após várias mudanças no Ministério da Fazenda, a verdade é que no início da década de 90, o povo brasileiro não acreditava mais na capacidade do governo de acabar com a hiperinflação. Tanto que, em 1994, a animação com a moeda que entraria em vigor, o Real, não era das maiores. É possível ver esse sentimento na reportagem feita pelo Casseta & Planeta. Ainda assim, o Plano Real conseguiu acabar com a inflação galopante. Mas como isso foi feito? Quais foram os ganhos para a população? Como anda a nossa moeda atualmente?
Montando o plano
Quando Fernando Henrique Cardoso, que era ministro das Relações Exteriores, passou a ocupar o Ministério da Fazenda, em 1993, o então presidente Itamar Franco já havia realizado várias trocas na chefia do setor. FHC não possuía formação em Economia, mas tinha bons contatos que poderiam ajudá-lo naquilo que seria a última cruzada contra a inflação. A equipe que desenhou o plano foi composta por Gustavo Franco, Pérsio Adira, Edmar Bacha, André Lara Resende, Pedro Malan e Winston Fritsch.
Diferente dos outros planos econômicos, não houve congelamento de preços, confisco de poupanças, tablitas e outras tantas aberrações. Ou seja, não houve um Dia D. Dividido em três etapas, o Plano Real foi aplicado gradualmente:
- Era necessário controlar os gastos do governo (que ajudavam na emissão de moeda), logo foi feito um corte de US$22 bilhões no orçamento e os impostos foram elevados em 5%. Além disso, o programa de privatizações de empresas estatais, iniciado durante o governo Collor, foi continuado.
- Um novo indexador seria aplicado: a U.R.V (Unidade Real de Valor). Esse indicador, que por muitos é considerado o grande “pulo do gato” do plano, faria a dolarização da economia, sem que fosse necessário utilizar o dólar norte-americano como moeda corrente. No final, a U.R.V não era nada mais do que a cotação do dólar do dia anterior. Para estabilizar os preços de Cruzeiros Reais (moeda vigente antes do Real) em Reais, bastava dividir os preços cotados em moeda nacional pela cotação. Com essa medida, o governo foi capaz de desindexar a economia, evitando os constantes reajustes de preços e salários.
- Quando toda a economia estivesse indexada à U.R.V, o Cruzeiro Real poderia deixar de ser a moeda corrente para dar lugar ao Real.
Vale ressaltar que o acúmulo de reservas internacionais foi de suma importância para o êxito do plano, principalmente para ganhar a credibilidade dos investidores estrangeiros e evitar ataques especulativos. Além disso, a privatização dos bancos estaduais, como o BANERJ, BANESPA, Banestado, etc, acabou com grandes torneiras de dinheiro que funcionavam de acordo com os interesses dos governadores de cada estado.
Isso porque, políticos, quando precisavam custear os gastos do estado, solicitavam que o banco do seu estado imprimisse dinheiro. Essa criação monstruosa de dinheiro aumentava a quantidade de moeda na economia, assim como a inflação.
No dia 1º de julho de 1994, em plena Copa do Mundo, o Real foi lançado. De junho de 1965 a junho de 1994, a inflação acumulada foi de 1,1 quatrilhão por cento! Naquele mês de junho a inflação havia sido de 47,43%! Como é possível ver no gráfico a seguir, ela foi vencida.
Por que o plano deu certo?
Como foi dito anteriormente, não houve controle de preços e confisco de poupanças. Ou seja, diferente dos demais, o Plano Real conseguiu acabar com o que de fato gera inflação: o aumento da quantidade de moeda na economia. Fechando as torneiras por onde milhões de notinhas eram emitidas, o governo foi capaz de manter o valor do Real. No gráfico a seguir é possível observar o crescimento da base monetária, alguns anos antes de o Real ser implantado.
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Outros êxitos do plano
Por mais que o principal objetivo do plano tenha sido acabar com a inflação galopante, o povo brasileiro colheu outros frutos. Antes do Real, o Brasil era um país extremamente fechado. A indústria nacional era atrasada, os produtos produzidos internamente eram caros e de baixa qualidade e o acesso a produtos importados era restrito.
Com a liberdade econômica extremamente baixa, o dinamismo da economia era pífio. Além do mais, com a inflação astronômica, empreender por aqui era algo extremamente complicado, uma vez que não se sabia o preço, no curto prazo, dos insumos necessários à produção de qualquer produto. Tal fato tinha um enorme impacto negativo na economia e na vida dos brasileiros.
Os gastos do governo, devido à grande quantidade de estatais e outros órgãos públicos, eram enormes – o que acabava sufocando ainda mais a iniciativa privada. Tal modelo tornou a dívida externa e interna cada vez maior, deixando o país refém dos bancos estrangeiros e do Fundo Monetário Internacional.
Quando o Plano Real foi implementado ocorreu uma abertura econômica. Dessa forma, empresas ineficientes que só sobreviviam por conta das barreiras impostas pelo governo aos produtos estrangeiros, tiveram que concorrer com grandes conglomerados internacionais. Isso levou à falência de várias empresas nacionais, ao passo que os produtos ficaram melhores e mais baratos.
Um dos melhores exemplos disso é o setor automobilístico. Fernando Collor disse uma vez que, comparado aos carros estrangeiros, os automóveis brasileiros pareciam carroças. Se hoje nossos carros são muito piores que os produzidos em outros países (por conta do custo Brasil, programa de conteúdo nacional, etc), imagine antes do Real.
Com a inflação controlada, as empresas passaram a saber os custos dos insumos, podendo realizar projeções mais confiáveis. Logo, investimentos de longo prazo começaram a fazer parte dos seus planejamentos, o que dava segurança para que elas voltassem a contratar mais empregados. Além do mais, os gastos do governo foram controlados e o tamanho do estado reduzido, uma vez que seus tentáculos foram cortados, abrindo as portas para o aumento da participação da iniciativa privada na economia.
De fato, a maior parte das reformas liberais exige sacrifícios (no Brasil, por exemplo, houve um aumento do desemprego, como é possível no gráfico a seguir). Entretanto, os funcionários públicos ou os donos de empresas que se beneficiam de alguma política protecionista do governo, estavam reduzindo o bem estar dos brasileiros.
No longo prazo, os sacrifícios foram compensados. Atualmente, por mais que o Brasil tenha problemas com inflação, baixo crescimento e dinamismo, nada se compara ao que o país vivia na era anterior ao Plano Real. O balanço do plano pode ser visto no gráfico a seguir.
Como anda o Real agora?
Na época do lançamento do Real, com R$1,00 era possível comprar 10 pães franceses, ou um quilo de frango, ou ainda um Kinder Ovo. Atualmente, é impossível comprar essas coisas com a moedinha que temos no bolso. Mas, como já escrevi no artigo sobre os preços $urreais, essa não é uma culpa dos empresários gananciosos que aumentam os preços. Nosso dinheiro, na verdade, está perdendo valor e o culpado disso é quem controla a quantidade de moeda na economia: o governo.
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A inflação acumulada desde o lançamento da moeda até o dia 1/02/2014 foi de 347,5%, Logo, um produto que custava R$1,00, em 1994, hoje teria que custar R$4,47 (deixando outras variáveis, como aumento da demanda, de fora da análise). Logo, R$100 de 1994 hoje estão valendo R$22,35.
Nos últimos anos, principalmente após a Crise de 2008, o governo vem estimulando a economia através do aumento dos gastos das famílias e do estado. Utilizando o Banco do Brasil, a Caixa Econômica e o BNDES, uma quantidade absurda de dinheiro eletrônico está sendo criada do nada, aumentando a oferta monetária. Por um período, os brasileiros começaram a se endividar e compraram carro, geladeira, casa e vários outros produtos. O preço disso foi o aumento da base monetária e, consequentemente, da inflação. Sem falar no aumento da inadimplência…
Enquanto o governo seguir com uma política fiscal e monetária expansionista o Real vai continuar perdendo o seu valor nos próximos anos.
É necessário, portanto, fechar mais torneiras, controlar os gastos do governo e tornar o Banco Central independente (uma vez que ainda vai demorar muito tempo para convencer as pessoas de que é necessário extingui-lo), para que ele possa manter a quantidade de moeda mais ou menos constante. Apenas dessa forma é possível devolver o valor perdido pelo real nas últimas duas décadas.